Blog da Marlizinha

domingo, 8 de agosto de 2010

O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá


Leia com atenção o texto que se segue:O-Gato-Malhado-e-a-Andorinha-Sinha

Quando a Primavera chegou, vestida de luz, de cores e de alegria, olorosa de perfumes sutis, desabrochando as flores e vestindo as árvores de roupagens verdes, o Gato Malhado estirou os braços e abriu os olhos pardos, olhos feios e maus. Feios e maus, na opinião geral. Aliás, diziam que não apenas os olhos do Gato Malhado reflectiam maldade, e sim, todo o corpanzil forte e ágil, de riscas amarelas e negras. Tratava-se de um gato de meia-idade, já distante da primeira juventude, quando amara correr por entre as árvores, vagabundear nos telhados, miando à lua cheia canções de amor, certamente picarescas e debochadas. Ninguém podia imaginá-lo entoando canções românticas, sentimentais.

Naquelas redondezas não existia criatura mais egoísta e solitária. Não mantinha relações de amizade com os vizinhos e quase nunca respondia aos raros cumprimentos que, por medo e não por gentileza alguns passantes lhe dirigiam. Resmungava de mau humor e voltava a fechar os olhos como se lhe desagradasse todo o espectáculo em redor.

Era, no entanto, um belo espectáculo, a vida em torno, agitada ou mansa. Botões nasciam perfumados e desabrochavam em flores radiosas, pássaros voavam entre trinados alegres (...)

Do Gato Malhado ninguém se aproximava. As flores fechavam-se se ele vinha em sua direcção: dizem que certa vez derrubara, com uma patada, um tímido lírio branco pelo qual se haviam enamorado todas as rosas. Não apresentavam provas mas quem punha em dúvida a ruindade do gatarraz? Os pássaros ganhavam altura ao voar nas imediações do esconso onde ele dormia. Murmuravam inclusive ter sido o Gato Malhado o malvado que roubara o pequeno Sabiá, do seu ninho de ramos. (…) Provas não existiam, mas que outro teria sido? Bastava olhar a cara do bichano para localizar o assassino. Bicho feio aquele. (…)

Assim vivia ele quando a Primavera entrou pelo parque adentro, num espalhafato de cores, de aromas de melodias. Cores alegres, aromas de entontecer, sonoras melodias. (…)

I A Andorinha Sinhá, além de bela, era um pouco louca. Louquinha, fica-lhe melhor. Apesar de ainda frequentar a escola dos pássaros – onde o Papagaio ditava a cátedra de religião – tão jovem que os respeitáveis pais não a deixavam sair à noite sozinha com os seus admiradores, mas já era metida a independente, orgulhando-se de manter boas relações com toda a gente do parque. Amiga das flores e das árvores, dos patos e das galinhas, dos cães e das pedras, dos pombos e do lago. Com todos ela conversava, um arzinho suficiente, sem se dar conta das paixões que ia espalhando ao passar. (…)

Apesar de todas essas relações e admirações, uma sombra anuviava a vida da Andorinha Sinhá, razão de ser deste atrasado capítulo inicial, pois a sombra era exactamente o Gato Malhado. Ou melhor: o fato dela nunca ter conseguido conversar com o Gato. Aquele sujeito caladão, orgulhoso e metido a besta, bulia-lhe com os nervos. Habituara-se a vir espiá-lo quando ele dormia ou esquentava sol sobre a grama. Escondida no ramo de uma árvore, mirava-o durante horas perdidas, cismando nas razões por que o feioso não mantinha relações com ninguém. Ouvia falar mal dele mas fitava o seu nariz róseo, de grandes bigodes, e – ninguém sabe por que – duvidava da veracidade das histórias. Assim são as andorinhas, o que se pode fazer? Não há forma de fazê-las compreender a verdade mais rudimentar, a mais provada e conhecida, se elas se metem a duvidar. São cabeçudas e se deixam guiar pelo coração.

O Gato Malhado era a sombra na vida clara e tranquila da Andorinha Sinhá. Por vezes estava cantando uma das lindas canções que aprendera com o Rouxinol, e, de súbito, parava porque via (às vezes adivinhava) o grande corpo do Gato que passava em caminho do seu canto predilecto. Ia então pelos ares, seguindo-o devagar e, em certa tarde, divertiu-se muito a atirar-lhe gravetos secos sobre o dorso. O Gato dormia, ela estava bem escondida entre as folhas da jaqueira, rindo a cada graveto que acertava nas costas do Gato, levando o preguiçoso a abrir um olho e mirar em torno. Mas logo o cerrava, pensando tratar-se de alguma brincadeira idiota do Vento.

JORGE AMADO, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: Uma História de Amor

Depois de leres atentamente o excerto de “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”, responde com clareza e correcção às questões que te são colocadas.

  1. A partir das informações que o texto te fornece, é possível caracterizar as personagens.

1.1 Caracteriza-as no aspecto físico.

1.2 Indica, agora, as suas características psicológicas.

1.3 Identifica o sentimento que se começa a esboçar neste excerto e que irá acabar por nascer entre as duas personagens.

  1. Faz o levantamento das histórias contadas acerca do passado do Gato Malhado e que lhe conferiram a fama de “assassino”.

2.1 Poderemos acreditar totalmente na veracidade dessas histórias? Porquê?

2.2 Atenta nas seguintes expressões: “gatarraz”; “cara do bichano”; “Bicho feio aquele” (2º parágrafo). Terão as características físicas do Gato Malhado e o seu modo de vida influenciado a produção dessas histórias? Como?

  1. O espaço em que decorre a acção dá indícios da estação primaveril. Justifica a tua resposta com expressões do texto.

3.1 Diz qual o recurso estilístico mais utilizado nesta apresentação.

4. Atenta na seguinte passagem:Assim são as andorinhas, o que se pode fazer? Não há forma de fazê-las compreender a verdade mais rudimentar, a mais provada e conhecida, se elas se metem a duvidar. São cabeçudas e se deixam guiar pelo coração.”

4.1 Classifica o narrador quanto à posição, justificando por palavras tuas.

5. Assinala com X, como verdadeira (V) ou falsa (F), cada uma das afirmações, de acordo com a obra O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá de Jorge Amado.

AFIRMAÇÕES

V

F

1. Jorge Amado escreveu “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá” em Londres.

2. As ilustrações de Carybé fizeram com que o escritor publicasse a obra.

3. A história começa com a expressão “Era uma vez…”.

4. No Gato Malhado... conta-se o amor impossível entre um gato e uma ave, inimigos por natureza.

5. O espaço físico da história é um jardim zoológico.

6. A Manhã é uma funcionária madrugadora e trabalhadora.

7. O Gato Malhado foi acusado, injustamente, de vários crimes

8. A palavra pilhéria no português-padrão do Brasil significa piada.

9. O Vento contou à Manhã a história de amor.

10. O primeiro encontro entre o Gato e a Andorinha aconteceu na estação do Verão.

11. Durante a Primavera, o Gato e a Andorinha passearam-se pelo parque.

12. Na estação do Verão, o Gato pediu a Andorinha subitamente em casamento.

13. Os protagonistas deste conto são três.

14. A Vaca Mocha tinha uma grande estima pelo Gato Malhado.

15. A Vaca Mocha falava espanhol e português.

16. O Gato Malhado e a Andorinha passeiam juntos enquanto as outras personagens

condenam o amor impossível.

17. A narração identifica-se porque os verbos estão no pretérito imperfeito.

GRUPO II

1. Assinala com X a resposta correcta.

1.1 “A Andorinha Sinhá, além de bela, era um pouco louca”.

Nesta frase, a expressão destacada desempenha a função de:

a ) atributo _____

b) complemento circunstancial de modo _____

c) nome predicativo do sujeito _____

1.2 Na frase (…)“Certa vez derrubara, com uma patada, um tímido lírio branco (…)”, estão presentes as seguintes funções sintácticas:

a) C.C. de Tempo + Sujeito Inexistente+ Predicado+ Complemento Directo+ Atributo+ C. C. de Modo______

b) Sujeito Subentendido+ Predicado+ C.C. de Modo+ C.C. de Tempo+ Complemento Directo+ Atributo_____

c) C. C. de Lugar+ Sujeito Subentendido+ Predicado+ C.C. de Modo+ Complemento Directo_____

2. Passa para a forma passiva a seguinte frase.

2.1 O Gato Malhado salvou o pássaro de morrer afogado.

3. Classifica morfologicamente as seis palavras sublinhadas no excerto .

4. Reescreve a frase, de forma a alterares a forma verbal para os tempos e modos solicitados:

No ramo de uma árvore, a Andorinha fitava o Gato Malhado.

a) Pretérito Perfeito Composto do Indicativo : No ramo…….

b) Condicional Composto : No ramo teria fitado….

c) Presente do Conjuntivo ( Começa a frase por “Espero que”) Espero que ……

d) Pretérito Mais-que perfeito do Indicativo : No ramo ……

e) Pretérito Imperfeito do Conjuntivo (Começa a frase por “Se”) No ramo ….

f) Futuro do Conjuntivo (Começa a frase por “Quando” ) Quando

g) Futuro Composto do Conjuntivo (Começa a frase por “Quando”) Quando ….

5. Assinala com X, como verdadeira (V) ou falsa (F), cada uma das afirmações, recordando tudo o que aprendeste sobre as relações semânticas das palavras.

AFIRMAÇÕES

V

F

a) Antónimo significa um vocábulo com sentido oposto ao de outro, opondo-se no seu significado.

b) As palavras hiperónimas designam os elementos contidos em determinada espécie.

c) Por polissemia entende-se os vários significados que se podem atribuir a uma mesma palavra.

d) A conotação é o significado primeiro (objectivo) de uma palavra, enquanto que a denotação é o segundo sentido (subjectivo) atribuído a uma palavra.

e) A palavra «pôr» é acentuada para não se confundir com a sua homófona, a preposição «por».

f) As palavras mobiliário e vertebrados podem ser hiperónimas.

g) As palavras aprender/apreender; descrição/discrição; emigrante/imigrante, eminente/iminente e cumprimento/comprimento são homófonas.

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